A Socifarma, empresa angolana participada pelo Grupo Cooprofar-Medlog, criou um novo centro de hemodiálise público em Angola, em parceria com o Governo, num investimento de 3,4 milhões de euros. O Governo angolano gasta por ano 15 biliões de kwanzas (38,8 milhões de euros) no tratamento de 1.621 doentes que fazem hemodiálise.
O centro tem capacidade diária para seguir 144 pacientes com insuficiência renal, mas a curto prazo prevê-se que aumente para os 180, referiu, em comunicado.
“Esta nova unidade permitirá melhorar a qualidade de vida e reduzir os custos a doentes que, actualmente, se vêem obrigados a efectuar os seus tratamentos em Benguela, a quase 500 quilómetros de Luanda”, sublinhou a empresa.
Segundo a empresa, o novo centro de hemodiálise, localizado no Hospital Geral do Lubango, Província de Huíla, vai ser uma referência a nível nacional com tecnologia de última geração, servindo toda a região Sul de Angola.
A Socifarma prestou o seu contributo através de apoio técnico e de know-how, ao nível da logística, formação de técnicos, instalação e manutenção de equipamentos.
Além disso, o Governo de Angola contou ainda com a contribuição da Fresenius Medical Care, líder mundial no sector da hemodiálise, para a edificação do centro.
“A criação de parcerias que conjugam o know-how e o conhecimento técnico português, com a vontade e os meios disponíveis em países como Angola, tem-se revelado uma enorme mais-valia nas relações entre os continentes europeu e africano, com ganhos significativos para a sua população”, frisou.
A Socifarma, fundada em 2012, actua na área da distribuição farmacêutica em Angola e conta com 280 colaboradores portugueses e angolanos.
Custos com a hemodiálise
O Governo angolano gasta por ano 15 biliões de kwanzas (38,8 milhões de euros) no tratamento de 1.621 doentes que fazem hemodiálise, ou seja cerca de 12% do orçamento da Saúde, afirmou no passado dia 21 de Junho a ministra da Saúde.
Sílvia Lutucuta falava à imprensa no final da sessão da Assembleia Nacional, que aprovou, na generalidade, a Proposta de Lei sobre Transplantes de Tecidos, Células e Órgãos Humanos, depois de 15 anos da sua preparação.
A governante disse que anualmente são alocados cerca de 12% do orçamento destinado à Saúde para o tratamento de doentes com hemodiálise, salientando que um transplante, dependendo do tipo de necessidade e as condições, pode custar entre 50.000 a 200.000 dólares (44 mil a 176 mil euros).
“Mas um doente por ano custa muito mais do que isso. Nós com os 1.621 doentes, que por ano fazem hemodiálise, são 15 biliões de kwanzas”, exemplificou a ministra.
Na apresentação da proposta de lei aos deputados, Sílvia Lutucuta disse que o diploma legal visa essencialmente acompanhar a evolução da ciência, da tecnologia, posta à disposição da humanidade para o tratamento de pacientes através de transplantes, mas sobretudo leva em consideração o cada vez maior número de doentes com insuficiência renal no país.
Segundo a ministra, estes doentes são diariamente submetidos, e de forma provisória, ao tratamento de diálise, podendo beneficiar de outro tipo de terapia de substituição da função renal, nomeadamente o transplante renal.
“O aumento de casos de doentes no território nacional com patologias hemato-oncológicas, linfomas, leucemias, anemias de células falciformes, aplasias medular, cujo único tratamento electivo consiste no transplante do progenitor”, configura igualmente uma preocupação para as autoridades, que pode ser aliviada com o início de transplantes no país.
“Actualmente a mortalidade causada por estas doenças em Angola é preocupante e os custos relacionados com a evacuação e tratamento no exterior são elevados, impossibilitando, na maioria dos casos, o seu tratamento”, realçou a ministra.
A titular da pasta da Saúde apontou ainda como objectivos o recurso aos transplantes para a reabilitação visual das cicatrizes de córnea, decorrente de doença infecciosa, particularmente na infância, nomeadamente o sarampo, desnutrição, úlceras infecciosas da córnea, traumatismos oculares, entre outras, que ameaçam de forma permanente a visão ou o globo ocular, sendo presentemente umas principais causas de evacuação em oftalmologia.
Sílvia Lutucuta referiu que já existem em Angola médicos nacionais treinados para fazer transplantes, não apenas o renal, mas de outros tipos como da medula óssea, do fígado, entre outros.
“Já temos alguns profissionais com experiência em histocompatibilidade, porque só vamos ter um laboratório a nível nacional para testes de histocompatibilidade, primeiro, para ver se há compatibilidade entre dador e receptor e, por outro lado, também para fazer o seguimento do doente e avaliar e monitorar o doente, para evitar a rejeição do órgão”, frisou.
De acordo com a governante, as estatísticas mundiais indicam que em cada milhão de habitantes, 10 mil pessoas todos os anos entram em tratamento dialítico, o que exportando para a realidade angolana seriam para os cerca de 30 milhões de habitantes, 30 mil novos casos por ano.
Além dos problemas renais, Angola sofre com outra doença muito comum entre a população, designadamente a anemia de células falciformees.
“A estimativa é de que 1% da população tem a forma mais grave de anemia de células falciformes, e estamos também a falar numa estimativa duma taxa de natalidade tão elevada. No nosso seio, também milhares de crianças nascem com anemia e células falciformes e com complicações muito graves e que em algumas circunstâncias o único tratamento para estas crianças, e até curativo, seria mesmo o transplante”, sublinhou.
A ministra disse que acresce-se a este quando, a existência de algumas doenças no país que colocam as pessoas numa situação de maior risco de evoluir para a insuficiência renal, nomeadamente a hipertensão arterial, a diabetes e doenças infecciosas, como a malária.
Um centro de referência nacional vai ser criado para os transplantes, disse a ministra, avisando que não é permitida a sua realização em qualquer unidade hospitalar.
“Estamos a trabalhar no sentido de termos a curto prazo condições para a testagem de todos os aspectos à volta da histocompatibilidade e isto é um processo”, salientou.
A ministra anunciou nessa altura a inauguração, no Lubango, de um centro de hemodiálise, um dos cinco que o Governo pretende criar a curto e médio prazo em outras regiões do país. Do universo de cerca de 30.000 pacientes apenas 1.621 fazem hemodiálise.
Folha 8 com Lusa
Legenda: O Presidente João Lourenço durante a inauguração do Centro de Hemodiálise da Huíla (foto de Clemente dos Santos / Angop)